O concerto de Mark Kozelek no Centro Cultural Olga Cadaval interessava-me especialmente. Não tinha a ver com as minhas expectativas, que eram moderadas. Era só ele e uma guitarra e a minha experiência com as canções dele nesse registo não é, salvo uma mão cheia de honrosas excepções, particularmente excitante.
O meu interesse especial no concerto de Mark Kozelek era muito pessoal, estava relacionado com a forma como comecei a prestar atenção à música dos Sun Kil Moon nos últimos tempos, o que também contribuiu para melhorar a minha relação com os Red House Painters (para quem não sabe, Mark Kozelek é a mente, a alma e a voz por trás de ambas as bandas).
Por isso – e apesar de já ter passado os ouvidos pelo mais recente projecto do Manel Cruz -, os Foge Foge Bandido, que tocaram antes de Mark Kozelek, interessavam-me pouco. Sim, não sou daquelas pessoas que gosta de tudo o que o Manel Cruz faz… mas não me censurem, por favor. Somos todos pessoas bonitas à mesma.
Uma cadeira, uma guitarra em cima da cadeira, um microfone e o respectivo tripé, os monitores e uma toalha no chão. Era isto que podíamos ver no palco, quando a cortina do auditório abriu. Creio que também lá estava o afinador mas, dado que não estava visível, retiro-o do panorama. Ele entrou todo vestido de preto e começou a tocar.
“Ålesund”, do novo Admiral Fell Promises, o mais recente álbum dos Sun Kil Moon, abriu o concerto da forma mais honesta possível. Quem ouviu aquela música e ficou, não foi enganado. O concerto ia ser assim, meio barroco e complicado.
Muitas pessoas saíram a meio, mesmo antes de Mark Kozelek iniciar uma intifada contra o senhor das luzes (a determinada altura, o músico desabafou que “a diferença entre um tipo do som [sic] retardado e um tipo do som [sic] europeu é muito ténue”, o que provocou algumas gargalhadas mas, estou certo, algumas sobrancelhas franzidas também), porque, presumo eu, não estavam à espera de música assim, não estavam à espera de um concerto naturalmente morno.
Uma versão acústica de “Duk Koo Kim” seguiu-se e a partir daí entrámos num mundo de música que deixou a roupa rock em casa e se manteve confortavelmente despida à nossa frente.
O concerto continuou com músicas retiradas de April e nenhuma dos Red House Painters e atingiu o ponto mais alto com a belíssima “Carry Me Ohio”, talvez a melhor canção dos Sun Kil Moon. A melodia repetitiva e a letra sobre amor não correspondido (na perspectiva de quem já não corresponde) são do melhor que Kozelek fez em mais de 20 anos de carreira. De um ponto de vista meramente egoísta, “Carry Me Ohio” foi a única das que queria mesmo ouvir que acabou por surgir durante a noite… e é uma pena. A mim, faltaram-me coisas como “Lost Verses”, “Gentle Moon”, “Salvador Sanchez”, “Have You Forgotten”, “Katy Song” e muitas, muitas outras. Mas pronto, já estava mais ou menos à espera.
Não estava à espera do final brusco mas, dada a frágil ligação estabelecida entre Mark Kozelek e o público (ele não era a simpatia em pessoa, o público não estava especialmente entusiasmado), quase não surpreende. A saída de palco foi simples, rápida e sem gratidão exagerada. “Thank you, guys” e lá foi ele.
Dos que estiveram ontem à noite no Centro Cultural Olga Cadaval, em Sintra, serei um de muito poucos a pensar isto mas… quando ele voltar a Portugal, quero vê-lo outra vez. A relação de Mark Kozelek com a guitarra, a voz estranhamente cativante e as letras longas, cheias de histórias, são argumentos mais que suficientes para que pense assim. As minhas expectativas eram moderadas e ainda bem. Não me levou ao céu mas também não me desiludiu. Acho que Mark Kozelek me convenceu.