A forma como as bandas divulgam o seu trabalho tende a influenciar a forma como as pessoas o recebem. Como é óbvio, a principal diferença é entre divulgar e não divulgar, práticas que resultam de forma naturalmente diferente. No entanto, mesmo quando há divulgação, as disparidades são visíveis entre casos aparentemente semelhantes.
Seja como for, uma coisa é certa: a divulgação tradicional já não é suficiente. Enviar uma cópia promocional ao crítico de música profissional e esperar por aqueles dois ou três parágrafos de adoração ou desprezo completo é um desperdício de tempo e de dinheiro. Numa altura em que os fãs de música obtêm cada vez mais informação via Web, é interessante que o investimento das editoras nesta área não seja aplicado proporcionalmente.
A nível internacional – que é como quase tudo acontece – há um pouco de tudo: a obsessão por serviços pagos de subscrição, a luta contra tudo e contra todos e a tentativa de trazer alguma frescura a uma indústria cansada (ou lá o que foi aquilo). A nível local, as editoras têm mais autonomia sobre um ou outro pormenor. A divulgação é um deles. Claro que nem tudo pode ser decidido a nível local. Querem pôr um álbum na Internet de graça? Provavelmente não podem. Mas há outras coisas, simples e baratas.
1. Perfis em redes sociais
O MySpace já é um lugar comum; o Facebook, em Portugal, nem tanto. Pessoalmente, vejo muito mais potencial no último do que no primeiro. Os perfis têm bom aspecto (ao contrário dos caixotes do outro), as aplicações são úteis e/ou giras, consoante os casos, e possibilitam bastantes formas de interacção entre utilizadores e marcas ou empresas. O mesmo se aplica às editoras discográficas. No mínimo, funciona como montra para a discografia e biografia do artista. No campo oposto, se as coisas forem bem feitas, a interacção entre artistas, editoras e fãs pode levar à criação de movimentos muito positivos.
2. Blogosfera
Se quero saber alguma coisa sobre nova música portuguesa, vou à Trompa. Se me interessam coisas sobre a minha banda favorita, acompanho as actualizações do blog oficial e do At Ease. Se me interessam mergulhos musicais mais profundos, subscrevo o podcast Revoluções por Minuto e ouço-o no iPod a caminho do trabalho. Se a minha cena é P2P, indústria discográfica, novas tendências da música na Web e cultura livre, então o Remixtures é o blog português a que vou. Repararam como não há aqui nenhum Público, Diário de Notícias, Blitz ou Disco Digital? É porque cada vez interessam menos. Nós, os fãs, estamos online e gostamos de dialogar mais do que escutar. Algumas bandas também. Mas ainda há um grande caminho a percorrer. Venham falar connosco, que temos todo o interesse.
3. Dêem-nos música
Eu sei que é complicado e que há toda a questão dos direitos de autor (que a indústria soube trazer à conversa quando começou a interessar), do vosso negócio tradicional estar pela hora da morte e tudo o resto. Mas não há volta a dar: se eu gosto de música, dêem-me música. Vá, inicialmente, tentem fazê-lo nem que seja só para eu experimentar. E acreditem no vosso produto. Eu, que ainda não sou utilizador do Last.fm, pergunto-me porque é que não está lá a música toda do mundo. Haverá melhor coisa para um artista do que aparecer no top dos mais tocados daquele serviço? Haverá, certamente. No entanto, esta hipótese também não é nada má. Olhem o Jiwa.fm, o meu blog, o Bitaites e a Mini-saia. O primeiro está fora do vosso alcance; é a casa-mãe que decide essas coisas, bem sei. Mas que é um óptimo serviço, lá isso é. O meu blog, por exemplo, é sobre música: meto uns quantos vídeos, escrevo sobre álbuns, concertos e afins e falo um pouco sobre o marketing da indústria discográfica e temas próximos. O Bitaites, ex-informático de serviço, é um dos melhores blogs que por aí anda escrito em Português e, de quando em vez, lá fala do Frank Zappa, de blues e de Radiohead, entre muitas outras coisas. Para além disto, é definitivamente um influenciador (tal como o Paulo Querido ou uma série de gajos da política, por exemplo). A Mini-saia é um blog com dicas para mulheres sobre moda e beleza. Parece fugir um pouco ao tema, não é? Mas olhem que estou a olhar ali para um post sobre fériasem que cabia perfeitamente, a acompanhar, uma música qualquer de uma banda qualquer que fosse a um festival de Verão.
Resumindo, não falo aqui a falar de investir a sério. Estas três sugestões tratam simplesmente de agir de forma natural. A palavra-chave é a mesma de sempre: adaptação.