Eu não odeio a indústria discográfica porque acho que foram responsáveis por me trazer a grande maioria da música que ouço.
As majors tendem a ser um pouco diabolizadas – e com alguma razão – por terem um historial de desrespeito por grande parte dos artistas que editam e pelos consumidores mas até não fizeram um trabalho assim tão mau nos últimos 50 ou 60 anos. O problema da mistura entre negócios e arte é que só muito dificilmente são compatíveis. É que uma empresa quer lucro; o artista pode querer uma série de outras coisas… mas, geralmente, deseja sobretudo produzir e divulgar o que fez. Claro que há os que querem sobretudo dinheiro e reconhecimento… mas esses raramente são artistas.
Gosto da ideia romântica da editora. Agrada-me a existência de um critério artístico, de uma sensibilidade que tem em conta o dinheiro, mas pouco. Sei que isto não existe. Nem nas quatro majors, nem nos pequenos grupos de editoras indie. Talvez aconteça numas quantas resistentes pequeníssimas e sem exposição nenhuma.
Com melhores ou piores opções, cresci a ouvir música popular. Nesse sentido, as editoras foram importantes para mim. Será que, se a EMI não existisse, alguma vez me teria deparado com os Radiohead? Sim, actualmente a EMI é detida por um tipo estranho com opções estranhas, mas ainda assim, será que os tinha encontrado? Esta questão, repetida para quase todos os artistas de que gosto (com muitos outros artistas menos conhecidos, cujas editoras têm outras condutas), torna-se importante.
Para todos os efeitos, a editora, como conceito, tem como função facilitar a divulgação de um artista. Juntando isto à questão dos critérios editoriais, quase sou levado a pensar que a ideia por trás de uma editora é a mesma que a que tento cumprir aqui: divulgar com qualidade.
Nesse sentido, não odeio a indústria e muito menos as editoras individualmente. Creio que têm um grande caminho por percorrer e que deverão mudar de atitude muito rapidamente mas não consigo deixar de pensar nas editora como potenciais elementos facilitadores. E podem pensar no Beggars Group, que detém uma série de editoras supostamente independentes (será que, tendo em conta que fazem parte de um grupo, ainda são independentes? Creio que apenas são mais pequenas e que têm uma filosofia diferente), para não terem de pensar na Universal, na EMI, na SonyBMG ou na Warner Music. Pensem nas possibilidades.
Mas isto sou eu, que não gosto especialmente da selva que é o MySpace. Agulhas em palheiros, sim… mas há um limite para tudo.