A EMI anunciou hoje o nome do seu novo CEO. Elio Leoni-Sceti, de 42 anos, era, até há pouco tempo, vice-presidente executivo da Reckitt Benckiser para a Europa. Não faz muito sentido, pois não? Num momento, contribuímos para o crescimento de produtos como Air Wick ou o fascinante Vanish (”confie no rosa, esqueça as nódoas”, pá!); no outro, estamos no cargo executivo mais elevado de um dos principais grupos internacionais na área da música.
Não tenho problemas com o facto de Leoni-Sceti não ter qualquer tipo de experiência profissional na indústria discográfica. A este nível, creio que conhecer o mercado e todas as suas especificidades faz parte do trabalho e, apesar de não ser propriamente um especialista, admito que, a este nível, as coisas funcionam de forma semelhante em diferentes mercados. O sujeito que se estreia no mercado faz pela vidinha e trata de se inteirar do que por aí se passa. Com sorte, ainda acrescenta uma visão diferente, mais fresca. Nada mais simples. Parto do princípio de que o novo CEO da EMI não é, portanto, um vendedor de banha da cobra.
Há, no entanto, algo que me faz desconfiar: o entusiasmo demonstrado no comunicado da EMI (e sim, eu sei que muito provavelmente lhe puseram aquelas palavras na boca… mas é certo que o texto lhe passou pelas mãos).
This is a hugely exciting time for the music business and for EMI. EMI is the world’s longest established music company operating in over 40 markets globally with a roster of some of the most successful artists in the world. (…) The potential that can be realised in this industry is massive, music consumption is growing more than ever across the world and I cannot wait to get started and to working with EMI’s artists and employees.
Estou certo que sete anos muito bem sucedidos na Reckitt fizeram de Elio Leoni-Sceti um homem muito ambicioso. No entanto, é com muito cepticismo que vejo este entusiasmo sem que haja um caminho mais ou menos definido no sector. O novo CEO da EMI fala dos artistas de grande sucesso de há quarenta anos atrás e dos da actualidade, dois pontos com que as editoras têm tido dificuldade em lidar. Por um lado, há quarenta anos não andavam cheios de problemas em fazer dinheiro. Por outro, agora não é preciso vender assim tanto para ser um sucesso de vendas.
A EMI fez algumas apostas interessantes, sobretudo na área digital, mas isto agora deixa-me de pé atrás. Estava à espera de um cínico. Mais uma vez, faço um disclaimer para dizer que não espero que o CEO de uma multinacional com um volume de negócios de cerca de 3 mil milhões de euros (e, em 2007, com um prejuízo perto de 400 milhões) seja ingénuo, como é óbvio. Mas esperava uma atitude visivelmente mais cínica, crítica e determinada. A ver vamos.