Este artigo faz parte da série Como fazer uma mixtape.
Já têm uma lista gigante de músicas elegíveis para figurarem no alinhamento final da vossa mixtape. Agora, falta dar o passo decisivo, o da escolha propriamente dita. O processo pode ser fácil ou difícil, curto ou longo… vocês percebem.
No limite, na altura de seleccionar as músicas, imperará o bom senso. No meu caso, há certas coisas que gosto de ter sempre em conta.
O efeito montanha-russa
Não gosto de discos que saltam entre opostos a cada música. Na grande maioria dos casos, as músicas não ligam de forma nenhuma (e a ligação temática só por vezes funciona bem) e o disco acaba por se tornar desconfortável a quem o ouve. “Hooker With a Penis”, dos Tool, seguida de “Song for a Blue Guitar”, dos Red House Painters? Não me parece.
Má qualidade sonora e músicas gravadas ao vivo
A qualidade sonora da faixa é importante, daí que só muito dificilmente considere bootlegs e versões gravadas ao vivo como opções válidas. Os bootlegs só muito raramente conseguem ter uma qualidade aceitável e, mesmo assim, não chegam ao nível de uma edição oficial. O som é demasiado baixo e pessoas a falar e palmas abafam muitas vezes o que interessa. E isto não interessa a quem ouve o disco. Os discos “oficiais” gravados ao vivo também não são muito boas opções. No meu caso, terá sempre de passar por um editor áudio para colocar gradações de volume no início e no fim da música, para que ninguém comece a ouvir pessoas aos berros logo no início de uma faixa. Mas nem sempre é possível fazer isto sem prejudicar a música… por isso, vejam lá se se aplica.
O início
Para mim, o tema de abertura é fundamental. Posso dizer-vos que alguns dos meus álbuns favoritos conquistaram-me aí. Há várias formas de abordar a coisa: podemos querer uma daquelas faixas “intro”, uma mais crescente ou uma imediata. Só nunca queremos é uma que seja esquecível, aborrecida, dispensável. Assim à primeira vista, “Auto Rock”, dos Mogwai, é um bom exemplo de música que funciona em crescendo e “2 x 2″, dos Get Him Eat Him, de uma música imediata. Escusado será dizer que há mais.
O clímax
Mesmo que não tenham noção disso, há um ponto alto na vossa mixtape, aquela música. Construam o disco em torno dela, seja pelo tema, pela música propriamente dita ou pelo que for, mas façam-no. Respeitem o que disse no primeiro ponto mas não ponham músicas iguais antes e depois desta… porque vai misturar-se. E não queremos que se misture, queremos que se distinga. A partir do clímax… deixem o disco cair sustentadamente até ao final.
O final
Gosto de bons fechos. Gosto da forma como “Motion Picture Soundtrack”, dos Radiohead, arruma o Kid A e de como “Stable Song”, dos Death Cab For Cutie, deixa Plans respirar por fim. Gosto de ter vontade de ouvir o álbum outra vez. Para isso, é fundamental terminar bem. Queremos apoteótico? Pode ser, desde que não mate o clímax anterior. Queremos calmo? Também dá, claro, desde que não estrague o resto do disco. É como disse: quero ter vontade de ouvir o álbum outra vez.
São algumas ideias. Pessoalmente, nunca esqueço as questões que coloquei na selecção inicial e tenho-as em conta quando pego nas músicas que acabam por fazer parte da versão final. De resto, continua sem haver grande ciência nisto.