Bill Callahan, ou como estragar a média

Bill Callahan - Eagle

Aqui há dias queixei-me da qualidade da música em 2009. Equacionei diversas hipóteses, inclusivamente a de estar errado. A resposta dos que por aqui passam habitualmente foi avassaladora, pelo menos tendo em conta aquilo a que me habituaram. Deram-me música para mais de um mês de audições, pelo que não me posso queixar. Como houve umas quantas referências, decidi começar esta série de audições por Sometimes I Wish We Were An Eagle, o novo de Bill Callahan.

E comecei bem. Este álbum é um dos melhores que ouvi até agora este ano e é certo que figurará numa série de listas lá mais para o final do ano.

Começa bem, com “Jim Cain” a definir o tom do álbum. A voz grave de Bill Callahan faz com que quase todas as músicas surjam envoltas numa espécie de fumo inebriante. Parece que nos quer adormecer só para que, instantes depois, nos possa acordar com uma tarola barulhenta. E logo volta ao mesmo.

Este Sometimes I Wish We Were An Eagle é folk, quer-me parecer, mas soa como se tivesse soul nas veias e imenso jazz para dar. Reparem em “Rococo Zephyr” e digam-me que não tenho razão. E a voz…

O álbum caminha lentamente para o final mas deixa-nos provar um travo de urgência em “All Thoughts Are Prey To Some Beast” e outro de experimentalismo em “Invocation of Ratiocination”. O final traz-nos de volta aos terrenos já familiares do resto do álbum (de tão lento que é, habituamo-nos bem antes de chegarmos ao final) quando chega à maravilhosa “Faith/Void”, cujos quase dez minutos conseguem deixar-nos a pensar que mais um bocadinho não fazia mal nenhum.

Um excelente álbum de fim-de-semana, de final de tarde, de noite, do que quiserem. É um excelente álbum.

Curiosamente, é a primeira vez que ouço Bill Callahan enquanto Bill Callahan. Como Smog, já por aqui passou. Mas Sometimes I Wish We Were An Eagle, apesar de lento, calmo e agradavelmente intoxicante, parece-me distante do lo-fi da música que Bill Callahan faz enquanto Smog. É como se fossem dois tipos diferentes… o que até faz sentido.

Olhem, valeu a pena queixar-me da música. Bill Callahan estragou a média dos álbuns de 2009. É que este é realmente bom.