Broken Social Scene na Aula Magna: a crónica suspeita de um fã

bsslisboa

Não sei se consigo dizer muita coisa sobre o concerto dos Broken Social Scene na Aula Magna. A verdade é que estou absoluta e irremediavelmente rendido ao som, ao espectáculo, às músicas, aos músicos, enfim, a eles. Não tinha dúvidas de que ia ser um concerto brilhante – sim, não poupei nas expectativas – e… foi.

O motivo da visita era o novo Forgiveness Rock Record, o quarto álbum de originais da banda canadiana, e isso ficou bem patente no alinhamento: das 21 canções tocadas esta noite, nove eram do último álbum. Os destaques vão para a energia de “Forced to Love” e para a força bruta da instrumental “Meet me in the Basement”. Guitarras, guitarras, guitarras!

Mas este concerto não viveu só do último álbum. E aqui chegamos a um dos aspectos mais importantes da noite de ontem: o alinhamento do concerto. Tivemos direito a tudo o que há de bom em Broken Social Scene. Faltou muito pouco para a perfeição… mas já lá vamos. Tivemos clássicos como “Cause = Time” e “7/4 (Shoreline)”; tivemos aquele momento sublime com “Anthems for a Seventeen Year Old Girl” e Lisa Lobsinger a passear pelo palco com se de um qualquer felino se tratasse, com passos tão cuidados que quase pareciam ensaiados; tivemos “Guilty Cubicles”, do primeiro álbum dos Broken Social Scene, a passar para uma sempre bem-vinda “Superconnected”… e tivemos direito a um cheirinho de Modest Mouse com “The World at Large” encaixada lá no meio.

O sempre vistoso Andrew Whiteman deu-nos a calorosa “Looks Just Like The Sun” e Brendan Canning a meio fria, meio tensa “Stars and Sons”… mas foi, como sempre, Kevin Drew a brilhar. A voz, a atitude de vedeta mais ou menos querida, a simpatia… tudo. Aquela versão da “Lover’s Spit” com melódica, harmónica, trompete e saxofone… enfim, não sei se arranjo palavras para explicar o que se passou ali. O Kevin Drew é o maior e não se fala mais nisso.

Depois de músicas gigantes, depois daquele palco cheio de tudo, depois de já terem arrebatado todas as pessoas naquela sala, os Broken Social Scene ainda nos deram a épica e barulhenta “It’s All Gonna Break”. Foram quase 10 minutos do que de melhor há naquela banda. As guitarras, os metais, a montanha-russa de sons e emoções, as letras perversas (e aquele momento divinal em que se ouve, e com razão, “you all want the lovely music to save your life” – é verdade, queremos) e a voz maravilhosa de Kevin Drew, meio aos gritos, meio calminho (dependendo da parte da música)… Foi um quase final quase perfeito. Quase final porque eles tinham dito que só tocavam mais uma mas ainda encontraram espaço, no meio das palmas e dos gritos do público, para tocarem uma versão descontraída de “Major Label Debut”, uma das melhores canções saídas daqueles lados. Quase perfeito porque faltou “Ibi Dreams of Pavement (A Better Day)”. Faltou, faltou, faltou e fez mesmo muita falta. Fez-me a mim, pelo menos, que a venero desde que a conheci. Sei que é gigante ao vivo – tocaram-na em Paredes de Coura e foi, de facto, maravilhosa – e sei que quem não a viu não sabe o que perdeu.

O concerto esteve tão perto da perfeição como seria possível para um concerto dos Broken Social Scene sem “Ibi Dreams of Pavement”. O alinhamento foi brilhante, os músicos foram fenomenais, a energia em palco foi contagiante. Foi tudo bom demais. Depois do concerto de Radiohead em Barcelona… só mesmo isto. Não vi melhor concerto em Portugal. No dia seguinte, fui ao Porto para os ver outra vez.