Eu e a música de final de tarde de domingo

A primeira canção que me recordo de ter catalogado como “de final de tarde de domingo” foi uma de que não deveria, em circunstâncias normais, falar aqui. Chama-se “Shoot the Moon” e é da Norah Jones. E não me lembro só da música, lembro-me do momento exacto. Estava a conversar com uma amiga no messenger e a coisa saiu-me. A conversa aconteceu num final de tarde de domingo, claro está, e aquela luz amarela, uma espécie de sol de Inverno multi-estações, entrava pela minha casa por todas as janelas que o permitiam. Estava-se bem e, na altura, “Shoot the Moon” fazia sentido.

Desde então, muita coisa mudou. A Norah Jones já não me aparece à frente tantas vezes quanto isso (apesar de continuar a achar uma certa piada a esta canção), já não falo com essa minha amiga no messenger (nem em lado nenhum, mas isso é outra história) e já não passo assim tantos finais de tarde de domingo em casa. Mas ficou a ideia de que existe todo um mundo de categorias alternativas, um mundo em que “música de final de tarde de domingo” quer dizer alguma coisa.

Não resisto a música de final de tarde de domingo. É óbvio que música de final de tarde de domingo, em última instância, é o que me apetecer… mas, na prática, não é bem assim. O contexto influencia fortemente a forma como acolhemos certas coisas. Para mim, na música, também é assim. O Yankee Hotel Foxtrot, dos Wilco, nunca me sabe melhor do que quando o ouço num domingo ao final da tarde; o mesmo se passa com o Ghosts of the Great Highway, dos Sun Kil Moon. São dois álbuns de final de tarde domingo. Apetece ouvi-los no carro com o vidro aberto e algum vento a tomar conta, a andar pela cidade com phones, em casa, em exclusivo ou na companhia de um livro… mas sempre ao domingo, sempre ao final da tarde. Por esta altura, estes álbuns atingem uma espécie de ponto óptimo, um momento de satisfação máxima possível. Assim vale a pena.

Agora… é óbvio que não os limito aos finais de tarde domingo (era preciso dizer?). Seja qual for o momento em que a encontro, a música de final de tarde de domingo transporta-me para lá, para o dia de descanso, para o tal sol de Inverno multi-estações. E eu gosto da sensação. É o mais perto que estive de ser teletransportado.