O número de trabalhadores artistas ou grupos musicais profissionais nos Estados Unidos tem diminuído quase sempre nos últimos 12 anos. Os dados são do US Department of Labor e mostram parte de uma realidade de que se fala há já alguns anos: o encolhimento da indústria da música.
Parece-me importante referir que isto não significa, por si só, um número maior de desempregados nem um número menor de músicos. Significa antes que há um número menor de artistas profissionais.
Isto pôs-me a pensar. A indústria discográfica está em queda há vários anos mas a indústria dos concertos está cada vez mais saudável. Portanto, tendo em conta que não estamos a falar de empregos de marketing, distribuição ou fabrico de discos, entre muitos outros relacionados com a música gravada, mas sim dos artistas propriamente ditos, não consigo perceber totalmente o que se passa aqui (mas tenho as minhas ideias).
No caso dos tais empregos que rodeiam os artistas, percebe-se: há menos dinheiro na indústria, há uma queda gigante no volume de vendas… logo, há menos emprego. No caso dos artistas, no entanto, há opções. Umas mais interessantes do que outras… mas há opções.
Porque é que o digital não pega de estaca para uma parte mais significativa dos artistas? Os motivos podem variar muito, naturalmente, mas andarão provavelmente à volta de um destes:
1. Não são suficientemente bons;
2. Não estão a trabalhar o suficiente;
3. Não estão a trabalhar bem.
O primeiro motivo parece-me auto-explicativo. Com o atual acesso facilitado a ferramentas de produção e afins, há muitas pessoas que antes podiam apenas sonhar com uma carreira musical e que agora podem alimentar o sonho. Isto, só por si, é revolucionário: quantos grandes artistas começam hoje em dia assim? Mas por cada um destes casos, há dez casos de pessoas iludidas que sabem que nasceram para a música (vejam o caso dos Ídolos, por exemplo). Estamos cá nós para sofrer com isso.
Mas o segundo e o terceiro motivos são os que mais interessam aqui. Na música, como em tantas outras áreas, as noções de marketing no sentido lato são quase nulas. As mais das vezes, as editoras limitam-se a fazer o que sabem fazer melhor, independentemente de ser ou não o melhor que devem fazer. O pior – e o que faz a ligação à notícia que refiro no início – é que os novos artistas, filhos do Napster e do MySpace (o MySpace é a mãe), ficam a saber como devem divulgar o seu trabalho… através das editoras. Por isso, vemos artistas altamente interessados em ir parar à rádio para poderem vangloriar-se disso em comunicados de imprensa atirados ao acaso enquanto disponibilizam uma música para ouvir no MySpace ou no SoundCloud. Com base em quê? E para quem é que estão a fazer isto? E porquê? Regra geral, ninguém sabe. E é este o problema. Não há estratégia.
Na música, como na vida (claro está), não há garantias. Ter uma estratégia não quer dizer que esta vá resultar. Mas ter uma estratégia significa, pelo menos, que estão a pensar e a trabalhar com o futuro em mente. Se querem chegar a algum lado, precisam de definir objetivos (ser podre de rico, editar um álbum, dar um concerto num grande festival de verão, etc.), uma estratégia (qual é o caminho para atingir determinado objetivo) e um plano de ações propriamente dito.
Há tantas coisas com que devem preocupar-se que não ouso sequer abordá-las aqui. Mas eles sabem para quem é a música deles e sabem o que gostam de ouvir e que tipo de ações gostam que os seus artistas favoritos façam. Sabem, também, como se comportam enquanto fãs. O que parecem não saber é que o caminho arranjar uma editora – gravar um disco – fazer digressões – ter dinheiro e miúdas está cada vez mais estreito e cheio de obstáculos. Ou talvez finjam não saber. É que criar uma página num qualquer serviço online e esperar que as pessoas lá vão parar é simples ignorância ou, pior, arrogância.
É aí que entram os comunicados de imprensa. Já recebi muitos e já descobri coisas boas assim mas… é uma lotaria do caraças. E é possível fazer as coisas de outra maneira. Mas precisam de trabalhar mais, de dedicar mais tempo à causa. (Sim, todos temos de trabalhar para ganhar dinheiro mas eu não tenho nada a ver com isso. Se não estão dispostos a arriscar, ninguém o fará por eles.)
Se não estão dispostos a arriscar, é normal que haja menos artistas profissionais por aí hoje em dia. Aos (bons) amadores que podem ser profissionais (tenham em mente que a probabilidade de um tipo que faz álbuns de spoken word suecos vir a ser profissional é bastante reduzida), está a faltar-lhes mais trabalho. Porque há por aí muitos bons artistas. Cada vez mais, até.
Eu sei que isto roça o desabafo irritado mas nem sequer é isso. É só uma pequena chamada de atenção. É que, se há coisas em que a Web tem sido fantástica, a quantidade de música boa que nos chega é uma delas. Mas isso não chega. O passo seguinte – o do sucesso e do reconhecimento – é mais duro do que o era há 20 anos. É preciso trabalhar mais e melhor.
Se tiverem ideias de como pôr isto em prática, não deixem de as partilhar.