Void

Kozelek

Mark Kozelek parece cansar-se facilmente das suas músicas, ao contrário de certas pessoas (pista: eu). Só assim sepode justificar a quantidade de versões diferentes de algumas canções que é possível encontrar em cada um dos seus quinhentos mil álbuns.

Vamos lá falar um bocadinho sobre “Void”, tema incluído em Old Ramon, o último álbum editado (em 2001) pelos Red House Painters. Com 9 minutos e 33 segundos, é apenas o segundo tema mais longo do disco, a seguir a “River”. É um tema típico da fase final dos Red House Painters. Lento, longo, coisa de banda completa e de alta fidelidade, muito próximo da versão de “Have You Forgotten” que podemos encontrar na banda sonora de Vanilla Sky.

Não sei se é da duração ou da guitarra no refrão, que sempre me deixou de pé atrás (apesar de não me fazer confusão nenhuma quando se lança para o solo), mas só depois de ter ouvido “Void” em Little Drummer Boy – Live, disco editado por Mark Kozelek com gravações ao vivo a solo e a duas guitarras, é que a aventura começou. Acho que se ouvirem a canção vão perceber porquê. Mais rápida e despida, esta versão foi a primeira que me agarrou a sério. Foi também uma das que mais contribuiu para me tornar um chato para os meus amigos.

Está cortada mas dá para perceber, certo?

Mas isto não chegava. Um dia, cruzei-me no YouTube com uma versão ao vivo mais antiga, uma coisa com áudio de qualidade duvidosa. Com banda completa e uma sonoridade tão profundamente 90s que quase toca nos anos 80, ao início é difícil perceber o meu fascínio. Mas depois acontece qualquer coisa ali mesmo antes do refrão que é como uma droga que se consome pelos ouvidos. É, à semelhança da versão de Little Drummer Boy, mais rápida… mas também tem mais distorção e uma bateria mais corajosa. Muito provavelmente a minha versão favorita de todas. Mais antiga que a “original” de 2001 (esta é de 1997), apanha os Red House Painters na sua melhor fase, a de Songs For A Blue GuitarOuçam-na aqui.

Deixo para o fim o motivo/desculpa deste artigo. Chegou-me há dias Live in Copenhagen, um disco oferecido por Mark Kozelek com a compra da banda sonora de On Tour: A Documentary (também ela composta de temas gravados ao vivo). Uma das primeiras coisas que fiz foi ir à caça de “Void” para perceber como estava a canção. E saiu-me uma nova versão. Mais solarenga e descontraída (a sério), é como um aquecedor de corações.

Gosto disto, desta abordagem. De resto, só assim se justifica que Mark Kozelek continue a editar álbuns ao vivo como se não houvesse amanhã. Pérolas assim merecem ficar registadas. Nem que seja no YouTube, em versões manhosas. Quanto a mim, não é muito habitual apetecer-me ouvir quatro versões da mesma música seguidas. Mas agora tem de ser. E venha de lá a quinta.