Tidal para quem?

Tidal

A indústria da música tem sido fértil, ao longo dos anos, em pôr montanhas a parir ratos. Tidal, o serviço de streaming de música de alta fidelidade comprado por Jay-Z em janeiro e relançado agora com pompa e circunstância, é apenas o episódio mais recente desta estranha maternidade.

Tidal é o primeiro serviço de streaming controlado totalmente por artistas. Entre os novos donos, encontramos Kanye West, Rihanna, Jack White, Madonna, Beyoncé e Chris Martin, por exemplo. O objetivo é que os artistas possam receber uma maior fatia de dinheiro do que recebem atualmente através de serviços de streaming como o Spotify, o Rdio ou o Deezer, por exemplo.

De resto, o Tidal apresenta-se como o primeiro serviço de streaming de música que combina a melhor qualidade de som de alta fidelidade, vídeos musicais de alta definição e conteúdos editoriais curados por especialistas. O serviço está disponível em Portugal e dá-nos duas opções de subscrição: a normal (premium, sem publicidade) por €8,99 e a especial (HiFi, com melhor qualidade de som) por €17,99. Se este parágrafo ainda não vos irritou ligeiramente, continuem a ler.

O hype é uma coisa lixada

Já há algumas semanas que se ouve falar mais de Tidal do que era suposto (sobretudo porque ficou disponível em Portugal há pouco tempo), tendo em conta a dimensão do serviço, mas a coisa ganhou contornos absurdos nas 24 horas que antecederam a conferência de imprensa de relançamento liderada por Jay-Z.

Artistas como os referidos anteriormente juntaram-se a mais uns quantos – Arcade Fire, Nicki Minaj e Daft Punk, entre outros – e tentaram convencer os utilizadores do Twitter a mudar a sua imagem de perfil para a cor azul e a utilizar a hashtag #TIDALforALL. Não sei se a coisa pegou a sério mas uma coisa é certa: a mensagem espalhou-se bem e #TIDALforALL foi uma das hashtags mais utilizadas do dia.

O ponto alto da campanha foi este teaser:

Ficámos todos sentados nas pontinhas das cadeiras à espera do que estava para vir.

E o que veio foi: Tidal é o primeiro serviço de streaming controlado totalmente por artistas e combina a melhor qualidade de som de alta fidelidade, vídeos musicais de alta definição e conteúdos editoriais curados por especialistas. A partir daí, era oficial: a montanha tinha de facto parido um rato.

A falta de noção também é uma coisa lixada

O principal problema da campanha #TIDALforALL não foi tanto a desilusão. A isso, no marketing, chama-se segunda-feira. O principal problema é aquele forALL, que não caiu nada bem.

Fazer do lançamento de um serviço de streaming de música perfeitamente banal algo semelhante a um movimento cívico ou revolucionário é, no mínimo, de uma falta de noção atroz. Como é que eles, alguns dos tipos mais ricos da música pop, nos dizem que os podemos ajudar a mudar a história da música e a devolver o controlo aos artistas? Estão a fazer exatamente o mesmo que os seus inimigosdas editoras e serviços de download e streaming de música fazem: a usar-nos como peões numa guerra por mais dinheiro. É uma hipocrisia do caraças. E o efeito é muito maior do que se fosse feito por uma das outras grandes corporações sem cara. É que desta vez são os tipos que nós adoramos a fazer-nos isto. E isto não se faz.

Quanto ao Tidal propriamente dito…

Esqueçamos por momentos a campanha. O serviço vale a pena?

Talvez não seja a melhor pessoa para responder à pergunta porque já testei o serviço com algum preconceito mas… no meu iPhone não consigo notar grande diferença entre a qualidade de som de uma canção no Spotify e no Tidal. Tão simples como isso. Como também não valorizo especialmente o conteúdo editorial incluído no serviço e ainda por cima, mesmo na modalidade mais barata, o Tidal custa mais dois euros por mês que o Spotify… a minha resposta é um não bem redondinho.

Funciona bem mas não é um serviço especialmente diferenciador, pelo menos para já. Integra uma funcionalidade tipo Shazam, o que é porreiro mas who cares?, e pouco mais do que isso. Além disto, numa pesquisa rápida não encontrei a maior parte dos álbuns de Sun Kil Moon, o que para mim é um grande problema, como sabem.

O único pormenor interessante para mim é mesmo o facto de não terem uma modalidade de subscrição gratuita suportada por publicidade. É uma opção que cada vez me parece mais razoável, dada a aparente dificuldade do Spotify em rentabilizar os utilizadores que não pagam nenhuma subscrição.

Sou um cliente pagante do Spotify há mais de dois anos e ainda não me arrependi. Em termos de concorrência pelo meu dinheiro, a única ameaça que vejo no horizonte é o Beats por causa da possível integração com os sistemas operativos da Apple, que é sempre uma mais-valia. Mas até lá, é certo que me vou manter fiel ao Spotify.