Estará o Record Store Day a perder gás?

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A romaria do Record Store Day está marcada para 18 de abril e é quase certo que visitarei três ou quatro capelinhas de Lisboa nesse dia, como tem sido tradição. Mas não consigo deixar de pensar que o Record Store Day se tem vindo a tornar cada vez menos relevante com os anos. Porque será?

Um pouco por todo o mundo, o Record Store Day tem-se mantido relativamente fiel a alguns princípios basilares, nomeadamente o de englobar nas suas iniciativas apenas lojas de discos físicas e independentes, excluindo portanto lojas online e grandes empresas. O objetivo, esse, é claro: chamar a atenção dos consumidores para as lojas de música de bairro que apresentam dificuldades em concorrer contra lojas online e grandes retalhistas que conseguem oferecer invariavelmente melhores preços em música nova. Isto já para não falar em downloads, streaming e afins.

Poucas fábricas, muitos discos… e as majors

O contributo do Record Store Day para levar pessoas às lojas tem sido reforçado com um conjunto crescente de edições exclusivas da data (e em vinil, claro), que são distribuídas apenas por meia dúzia de lojas independentes. Apesar dos pontos a favor, nos últimos anos, o Record Store Day tem vindo a gerar também alguns anticorpos junto de artistas e editoras independentes, sobretudo por contribuir fortemente para o engarrafamento que existe atualmente na produção de discos de vinil (porque, com o regresso do formato, não há fábricas suficientes para darem conta do recado em tempo útil).

Ora, o público que visita lojas de música é, em teoria, mais dado ao consumo de discos editados por editoras e bandas independentes, que acabam por ser prejudicadas por não conseguirem ter os discos editados em vinil a tempo (ou de todo). Sabem quem consegue? As majors, claro.

Em 2015, a tendência não deverá alterar-se, já que estão confirmadas 592 edições limitadas a propósito do Record Store Day.

O pesadelo do comércio local em Lisboa

E depois há um problema local, pelo menos em Lisboa.

No ano passado, o Record Store Day foi no fim de semana da Páscoa. Na prática, isso refletiu-se na não abertura da Carbono (para protestar contra o IVA sobre a cultura, supostamente) e da Flur, que decidiu deixar as celebrações para outro dia. Mas isto é apenas sintoma de um problema mais grave: a falta de profissionalismo que parece afetar algumas das lojas independentes de Lisboa.

Não tenho tido razões de queixa da Louie Louie nem da Vinil Experience, que são bons exemplos de perseverança e dedicação ao negócio, mas posso dizer que em algumas das restantes não faltam empregados maldispostos, respostas tortas a clientes, horários de abertura absurdos, faltas de respeito pelos horários definidos pelas próprias lojas. Com as bases tão pouco cobertas, nem me vou pôr aqui a falar de como deveriam estar a tentar atrair-me às lojas, fosse com promoções, eventos especiais ou o que quer que fosse. Mas o básico, pá… o básico é para cumprir.

Posto isto, ainda sem saber o que as lojas lisboetas estão a preparar para o Record Store Day 2015, estou um pouco de pé atrás. Não vou deixar de dar um salto a algumas delas – a ver se experimento algumas que não conheço também – mas as minhas expectativas serão bem moderadas, que a boa vontade tem limites.