Strangers To Ourselves e a normalização dos Modest Mouse

Modest Mouse

Os artistas mudam. A música que fazem também. Com álbuns espalhados pelos últimos 20 anos, é apenas normal que os Modest Mouse tenham mudado, tenham evoluído. No geral, para os fãs de há mais tempo, as grandes mudanças tendem a ser pouco apreciadas. Para os artistas, presumo que seja uma questão de manter a sanidade mental. Ou a insanidade, no caso de Isaac Brock e dos Modest Mouse.

Strangers To Ourselves, o mais recente álbum da banda, é um passo natural na evolução da banda mais de dez anos depois do surto de popularidade conseguido com “Float On” e o brilhante Good News For People Who Love Bad News em 2004. Entretanto, em 2007, houve We Were Dead Before The Ship Even Sank. Depois, foram oito anos quase sem novidades.

Porque é que demoraram tanto tempo? Segundo Isaac Brock, numa entrevista à Billboard, não parece haver uma razão simples: ideias que não resultaram, produtores que não resultaram, mudanças no alinhamento da banda e a ausência de pressão por parte da Epic, a editora, justificam grande parte dos oito anos.

Editado em março deste ano, Strangers To Ourselves, funde a sonoridade pop/rock de We Were Dead Before The Ship Even Sank com a dispersão espalhafatosa dos álbuns anteriores da banda sem nunca chegar a causar a estranheza comum a todos eles num ou noutro momento. Quer dizer, “Pistol” soa bastante estranha mas não é aquele para-arranca, aquele não é por aí – é por aqui! que povoa todos os álbuns deles até Good News For People Who Love Bad News. Lembram-se de “Space Travel Is Boring”?

O último álbum dos Modest Mouse está longe de ser mau mas não se pode dizer que esteja ao nível de um The Moon & Antarctica. E parece-me cada vez mais certo que, tal como não devemos voltar onde fomos felizes, os Modest Mouse não vão voltar à música que os tornou numa banda de culto. Porque evoluíram.

Não voltarão a dar-nos coisas como as inesquecíveis “Paper Thin Walls”, “3rd Planet” e sei lá mais o quê. Mas vão dar-nos boa música nova. “The Best Room”, “Pistol” e “Coyotes” são apenas alguns exemplos das coisas maravilhosas que eles continuam a dar-nos.

A evolução dos Modest Mouse nos últimos dez anos parece estar sobretudo ligada a uma certa normalização. Depois da (adorável e brilhante) esquisitice toda e depois do surpreendente sucesso de Good News For People Who Love Bad News, a banda passou a ocupar um novo espaço. Um espaço de maior notoriedade que talvez lhes coloque uma pressão acrescida. Ou não, dado que demoraram oito anos a lançar um álbum. Mas o que interessa é que, passado o efeito de “Float On”, a banda não voltou ao mesmo sítio. Foi como se um asteróide tivesse alterado a órbita deles.

Cá para mim, não há problema nenhum. Sendo álbuns muito distintos, gosto tanto de The Moon & Antarctica como de We Were Dead Before The Ship Even Sank. Depois de referir que um me parece melhor que o outro… acham possível? Eu acho que sim. Desde que não estagnem, ficarei bem.

Aproveitem para ouvir Strangers To Ourselves, se ainda não se cruzaram com ele. É do melhor que por aí anda.