Dan Mangan é um prazer recente. Há coisa de ano e meio, cruzei-me com uma canção dele – “Robots” – e fiquei interessado. Isto acontece-me de vez em quando: ouço uma música, acho interessante, e decido dar uma oportunidade a um álbum ou ao que quer que o artista tenha gravado. Foi o que fiz. Mas demorei uns meses valentes até ouvir Nice, Nice, Very Nice e, quando o fiz, roguei-me pragas por ter demorado tanto tempo. O álbum era, a todos os níveis, uma obra fantástica. Tinha canções maravilhosas, como “Basket” ou “Fair Verona”, e conjugava uma folk desinibida com letras absolutamente perfeitas. Tudo isto regado a uma espécie de depressão suburbana de que só podia gostar.
Felizmente, não tive de esperar muito pelo terceiro álbum (claro que, entre um e o outro, ainda fui conhecer o primeiro). Oh Fortune chegou em Setembro passado, ali pelo início do Outono. E foi, como já referi, o disco mais caro que comprei (entre o preço da edição especial, os portes e a alfândega). Agora, valeu a pena? Bem, se fosse hierarquizar do melhor álbum de sempre para o pior, claro que não. Mas valeu, porra. As minhas expectativas eram elevadas e tinha um certo receio de ficar desiludido… mas simplesmente não fiquei. Longe disso.
Oh Fortune é um álbum crescido. É uma daqueles trabalhos regados a bom gosto – nos arranjos, nas letras, no alinhamento… em tudo. Também me parece ser um bocadinho mais difícil que o anterior, no sentido em que há canções como “Leaves, Trees, Forest” ou “Daffodil”, ambas muito pouco imediatas mas que acabam por crescer dentro de nós com o tempo.
Mas não faltam momentos imediatos, fantásticos e dignos de destaque. O caso mais óbvio é o de “Post-war Blues”, que já referi aqui. O ritmo acelerado, a tarola a espaços tresloucada e o refrão fazem desta canção um clássico instantâneo na carreira de Dan Mangan. O facto da música tratar de um certo sentimento de vazio torna esta grandiosidade um tanto ou quanto estranha mas acho que a piada também está aí. E depois há aquele final épico.
Outro dos pontos altos de Oh Fortune chega logo a seguir no alinhamento. “If I Am Dead” tem uma letra simples e directa, bem ao estilo do músico canadiano, e é linda: “Burn my remains / My stuff, the same / Bury my name / It’s yours now, anyway” é definitivamente um dos grandes momentos deste álbum.
No canto mais barulhento de Oh Fortune, “Rows of Houses” é um dos melhores exemplos do que Dan Mangan consegue fazer com um bocadinho de electricidade mas é “Starts With Them, Ends With Us” que leva o prémio para casa, até porque quem me dá finais épicos, dá-me tudo. Começa baixo, baixinho, mas vai subindo até ao final apoteótico em que os metais dizem olá e ficam para jantar.
Não estou certo de que compreendam mas ouçam o pequeno apontamento de fundo (trompete, talvez, mas percebo muito pouco do assunto) aos 3 minutos e 58 segundos e digam-me que não é das coisas mais sublimes que já ouviram.
O início em valsa com “About As Helpful As You Can Be Without Being Any Help At All” e o fim inquisidor com “Jeopardy” (em que todos os versos são perguntas) mostram aquilo que o resto do álbum confirma: um certo ecletismo… mas com a consistência que me leva a dizer que Oh Fortune é um álbum crescido. É, também, um dos melhores do ano.