De quem é este MP3?

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Nos últimos dias, surgiu um rumor muito engraçado na Web: o de que o ator Bruce Willis estaria a processar a Apple por não poder deixar os supostos 50 mil euros de música que tem no iTunes em herança às suas filhas após a sua morte. É uma notícia sem fundamento mas levanta questões muito interessantes sobre o que significa comprar e ter um ficheiro digital.

A pergunta que coloco no título é fácil de responder: teu é que não é de certeza.

A Apple não permite que vocês partilhem, de nenhuma forma, a música que compram através do iTunes… pelo que a resposta é mesmo aquela. O que a Apple vos permite fazer é usufruir da música numa série de dispositivos vossos enquanto por cá andarem. E é só.

Mas não faria sentido?

Quer dizer, com a democratização do streaming e a manutenção do estado das coisas no que à pirataria diz respeito, isto praticamente não é uma questão. Além disto, o valor percebido de uma coleção de música digital é reduzido, independentemente do dinheiro que tenha custado e graças também ao streaming e à pirataria, que fazem com que o custo real de um MP3 se aproxime do zero.

Ainda assim, há qualquer coisa que me incomoda nisto. Eu escolhi aquelas músicas. Eu paguei pelas músicas (já sei, já sei, foi só para as ouvir). O que ouço faz parte do que sou (no meu caso, então, é uma grande parte do que sou, já que sou um tipo a modos que unidimensional) e, porra, da mesma maneira que um tipo quer deixar uma árvore plantada e um livro medíocre nos escaparates, pode muito facilmente querer deixar as suas escolhas para que outros possam conhecê-las. Para mim, isto faz sentido. Mas depois vamos ter ao argumento económico e daqui a pouco tempo teríamos a Apple, que planeia dominar os próximos 300 ou 400 anos da indústria da música, a ficar sem pessoas para comprar o direito a ouvir música. Era uma chatice.

De qualquer forma, isto leva-nos a outra discussão maior: o que deve acontecer à nossa vida digital depois de morrermos? No meu caso, devem os meus perfis no Facebook, no Twitter e no LinkedIn continuar disponíveis para que todos possam ver? Para muitos, pouco interessa. Para os que fazem da criação e da partilha um modo de vida, no entanto, esta questão pode tornar-se importante.

O que acham disto? Estão preparados para deixar as vossas tentativas de humor no Twitter assim ao abandono? Ou são daqueles que já criaram e programaram conteúdo seguramente póstumo só para prolongarem a vossa vida por estes lados?