Ao quarto álbum, Justin Vernon descansou.

Sempre que escrevo sobre Bon Iver, tendo a escrever sobre mim. Isto acontece porque, desde que For Emma, Forever Ago me apareceu à frente, a música que os Bon Iver fazem é a música que eu quero ouvir – mas eles parecem saber disso antes de mim. Assim foi durante os últimos dez anos, com todas as evoluções e revoluções musicais que por ali aconteceram. E, a julgar pela relação que estou a criar com i,i, assim continuará a ser.

Justin Vernon parece ter relaxado finalmente. O resultado é um passo mais pequeno do que o gigantesco salto que a banda deu com o lançamento de 22, A Million. i,i é, também o pior álbum editado por Bon Iver até hoje.

O “pior”…

Vindo de mim, o que significa isto? Muito pouco, honestamente. Os três álbuns anteriores, que têm barraca montada no meu Olimpo musical, fizeram uma boa caminha de expectativas que i,i simplesmente não conseguiu superar.

Era melhor que fosse melhor, mas pior não é mau. Tenho explorado os seus inúmeros recantos e descoberto pormenores à medida que o vou ouvindo uma e outra vez e tudo o que me agarrou aos álbuns anteriores de Bon Iver está lá. Mas, onde antes a banda apontava para um sítio distante, agora soa confortável exatamente onde está. Não está à deriva, mas também não parece estar a ir para lado nenhum. E a densidade dos tais momentos que me agarram a Bon Iver é simplesmente menor.

Às vezes é porque as canções parecem inacabadas. Noutros casos, porque as melodias vocais de Justin Vernon soam vulgares (olá, “We”). Há ainda o ocasional verso preguiçoso… ou rimar “be” com “be” passou a ser aceitável, como acontece em “Salem”? Os álbuns anteriores pegavam-me ao colo e levavam-me de uma ponta à outra sem me deixar tocar no chão. Mas talvez i,i esteja em pior forma… ou estou eu um bocadinho mais gordo. É que, salvo algumas exceções, só a espaços me senti assim.

E o melhor (sem aspas)

Mas a verdade é que as minhas queixas em relação a i,i cabem todas no último parágrafo. De resto, a minha boa vontade para com Bon Iver permitiu-me chegar àquela bonita parte final de “Holyfields,” e ao comovente segundo refrão de “Salem”. Permitiu-me também descansar ao som de “Marion” e “Sh’Diah”.

E não foi preciso boa vontade nenhuma para me render a “iMi”, “Hey, Ma”, “Faith” e à épica “Naeem”.

Mas “Hey, Ma”, “Faith”, “U (Man Like)” e “Jelmore” foram postas cá fora antes do álbum. E “Naeem” já tinha boas versões ao vivo a circular no YouTube, sobretudo a que foi lançada juntamente com as antecessoras de “Sh’Diah” e “Marion” a propósito do espetáculo conjunto de Bon Iver com o coletivo de dança TU Dance. Conhecia sete das doze canções, o que não costuma resultar muito bem para mim. Ainda assim, aguentaram-se bastante bem.

A música de Bon Iver continua a ser de uma entrega física, de uma honestidade emocional quase embaraçosa. E a minha ligação à música deles tem aqui um ponto-chave porque sinto que o que aquelas vozes e aqueles instrumentos dizem é evangelho. O que dali sai é a verdade. Por isso, continuarei a perder-me nos recantos de i,i e a emocionar-me com os seus muitos pontos altos.

O pior álbum de Bon Iver. Se os próximos forem tão maus como este, contem comigo.