Benji, o estranho e belíssimo álbum editado pelos Sun Kil Moon no ano passado, foi aclamado pela crítica internacional (e considerado o melhor do ano por mim aqui no Ouve-se, já agora). Aproveitando a onda e profícuo como sempre, Mark Kozelek anunciou há algum tempo que o novo álbum dos Sun Kil Moon se chamaria Universal Themes e seria lançado em junho.
E pronto, chegou. Está aí. E só me apetece perguntar: o que raio andaste tu a fazer, Mark Kozelek?
Universal Themes parece ser um documentário áudio sobre o período da vida de Mark Kozelek durante o qual o álbum foi escrito. O problema é que não aconteceu nada de absurdamente marcante na vida dele durante esse período (pelo menos não aos meus olhos), o que torna os temas de Universal Themes praticamente tão universais como qualquer acontecimento da minha vida. Parece uma boa premissa, não parece? Pois, em teoria sim.
Poderíamos ficar aqui a discutir como a beleza do quotidiano pode ser uma excelente fonte de inspiração para um artista mas não vale a pena. Mark Kozelek tem feito isso desde os primórdios dos Red House Painters. Mas nunca fez um álbum tão instantâneo como este Universal Themes. É a corrente de consciência levada ao extremo. Em Benji era sobretudo uma questão de forma mas em Universal Themesé o aspeto central da música dos Sun Kil Moon. O conteúdo das letras é quase indiferente: um concerto dos Godflesh em “The Possum”, as gravações de um filme na Suíça em “Birds Of Flims”, uns minutos de ódio dedicados a um crítico de música em “Cry Me A River Williamsburg Sleeve Tattoo Blues” ou o facto de Ben Gibbard o ter convidado para tocar guitarra num concerto de Ben Gibbard em “This Is My First Day And I’m Indian And I Work At A Gas Station” podiam ser sobre outra coisa qualquer. E nalguns casos são… mas, como vos disse, é indiferente. O conteúdo só lá está para fazer cumprir a forma. Mas ao menos há a música, certo?
Não me façam falar da música.
Universal Themes começa mal, com uma gigante trapalhada de 9 minutos chamada “The Possum”, que já tinha sido divulgada há uns meses valentes. Como a seguir vem “Birds Of Flims”, um tipo como eu ainda alimenta alguma esperança. Mas depois vem a realidade.
Durante o resto do álbum, é difícil encontrar momentos musicais a que queiramos muito regressar. Há um ou outro tema musicalmente relevante, como “Cry Me A River Williamsburg Sleeve Tattoo Blues” ou “Garden of Lavender”, mas a sensação que fica no final dos 70 minutos de Universal Themes é a de que a música estava lá apenas para dar contexto às letras. Ora, as letras não são tão profundas, interessantes ou engraçadas como as de Benji. Os jogos de palavras não resultam tão bem. A poesia sofre com aquela espécie de liberdade forçada que Kozelek dá às palavras. Portanto, o que sobra?
Sobra pouco. Sobram pequenos momentos perdidos no meio de canções de 8-10 minutos. E não chega. Não depois de Benji. Não depois de ele nos ter deixado olhar para aquele retrato do envelhecimento. Não depois de nos ter deixado a pensar em como o contacto com a morte se torna cada vez mais frequente com o tempo. Não depois de “Carissa”, “I Can’t Live Without My Mother’s Love”, “Micheline” ou “Richard Ramirez Died Today Of Natural Causes”.
Mark Kozelek parece ter-se convencido de que pode fazer o que quiser. E ainda bem para ele… porque pode, claro que pode. E nós vamos aguentando. Mas a reflexão, a edição e a auto-crítica nunca fizeram mal a ninguém.
Se quiser ser otimista, posso dizer que Universal Themes é um álbum extremamente difícil, uma arriscada afirmação artística de um músico interessado em brincar com os limites.
Mas sejamos sinceros: os limites com que Mark Kozelek mais brinca em Universal Themes são os da nossa paciência. Universal Themes é difícil mas não parece tornar-se desafiante com o tempo. Somos obrigados a focar-nos nos pormenores para não termos de olhar para o desinteressante todo que para ali vai.