É o que é: 6 canções sobre resignação

Enquanto fã de música deprimente, não há sentimento no mundo que goste mais de ver retratado numa canção do que a resignação.

Há algo de encantador na maneira como se manifesta, às vezes absolutamente transparente, outras quase disfarçada de otimismo. E é intrigante ver quem quer que seja a mostrar-se resignado porque a resignação é uma forma de adaptação ao contexto muito difícil de explicar. O que é que leva alguém a anular-se ao ponto em que não há outro caminho que não o da resignação?

É uma reflexão que deixa tudo em aberto. Seja enquanto tema principal ou mero substrato de uma canção, a resignação presta-se a isto brilhantemente. Vamos a exemplos?

1. “No Surprises”, dos Radiohead

A abordagem é irónica e acho que sempre tive noção disso. Mas a canção sempre me enganou os sentidos, sempre me levou a sentir um certo conforto de quem vai viver uma vida sossegada. “I’ll take a quiet life / A handshake of carbon monoxide / And no alarms and no surprises”, canta Thom Yorke a determinada altura. Mas uma vida sossegada a troco de quê?

2. “Do What You Can Do”, dos Constantines

Das minhas centenas de canções favoritas, acho que não há nenhuma que se assuma tão honestamente como um hino à resignação. Não há orgulho nenhum mas também não reina a desilusão. É simples: faz-se o que se pode com o que se tem.

3. “Out of Time”, dos Blur

Um dos últimos versos da canção diz simplesmente: “We’re out of time”. Se já não há tempo para experimentar algo que possa alterar o rumo das coisas, o que é que se faz? Mas parece-me óbvio que a questão é falaciosa, pelo menos na maioria das vezes. Será que não há realmente tempo?

4. “It’s Okay”, dos Land of Talk

Deve ser uma das minhas músicas favoritas dos últimos dez anos e toda ela respira resignação, do título à voz, da letra aos instrumentos. “Maybe when I die / I get to be a car / Driving in the night / Lighting up the dark / Something in your voice / Sparks a little hope / I’ll wait up for that noise / Your voice becomes my home” é um refrão fantástico em que a resignação se mascara de esperança lá para o final. Depois de “tudo bem, não vale a pena”, passamos a “tenho uma leve esperança” – a leve esperança que contribui para racionalizar a falta de ação. Porque, caso contrário, estamos todos à espera de morrer.

5. “Reasonable Man (I Don’t Mind)”, dos The National

“A quiet love is better than none” é provavelmente um dos meus versos favoritos de sempre. Nesta canção não vão encontrar senão resignação. Há um aviso à navegação – um óbvio “não façam como eu” – mas é claramente destinado a outras pessoa. Ele, o sujeito, parece ter tomado a sua decisão há muito tempo: esperar, ser razoável e não levantar ondas.

6. “The World At Large”, dos Modest Mouse

“The World At Large” é perfeita para acabar com os exemplos. É anti-resignação por excelência (outra coisa não seria de esperar dos inquietos Modest Mouse). E nada espelha melhor este sentimento do que estes versos: “I know that starting over is not what life’s about / But my thoughts were so loud I couldn’t hear my mouth”.

Se preferirem o modo Resignação EP, podem sempre ouvir as canções seguidas aqui:

https://open.spotify.com/user/filipemarques/playlist/39gwXxVwQgzI0GObS7YOVm?si=tNpoNiHmQfq_W2_cZeO6mw

Outra coisa: se tiverem algum conselho acerca de músicas sobre resignação, sou todo ouvidos.