No que a descobrir música diz respeito, tenho algumas técnicas mais ou menos bem definidas. Entre as várias ferramentas de descoberta que o Spotify disponibiliza, os artistas recomendados do Last.fm, as notícias e críticas dos principais sites de música e as recomendações feitas por amigos, acho que tenho uma rede bastante bem montada. Aliás, parece-me seguro dizer que só não conheço mais música porque sou um tanto ou quanto preguiçoso e tendo a tornar os meus artistas e bandas preferidos em objetos de obsessão.
Há, no entanto, uma ferramenta de descoberta musical que normalmente não identifico enquanto tal: o acaso. Bem sei que chamar-lhe ferramenta pode ser abusivo, mas deixem-me explorar o tema.
Quantas das vossas bandas favoritas descobriram por acaso ou graças a uma série de coincidências? Eu tenho umas quantas e Eels e Low são, provavelmente, os dois exemplos mais gritantes – decidi um dia na Fnac que ia aventurar-me com bandas que não conhecesse e escolhi estas duas. O resto é história. Mas há mais e até os Radiohead entraram na minha vida um pouco pela porta das traseiras (salvo seja).
Esta semana aconteceu-me novamente. Com outros fatores à mistura, atenção… mas o acaso foi, de facto, a peça fundamental do puzzle. Já conhecia Elliott Smith e até já tinha um disco dele mas, por ocasião dos dez anos da sua morte, fui ouvir uma canção. Comentei qualquer sobre o assunto com a Sílvia, que é fã dele, e ela falou-me de mais duas ou três músicas. Até aqui, não tinha havido acaso nenhum. Mas até aqui também não tinha havido aquele clique. Até que, distraído pelo trabalho, deixei o Spotify a tocar a lista de músicas que apareciam na pesquisa e, a determinada altura, começou “Roman Candle”.
E pronto. Foi como uma epifania… mas deixo isso para outra altura.
Estou certo de que veem nisto pouca influência do acaso. Mas posso garantir-vos que foi graças a ele e àquela espécie de distração que Elliott Smith me agarrou. Tal como tinha acontecido antes com Eels, Low e Life Without Buildings.
Eu sei que sou um tipo relativamente pessimista mas… já pensaram na quantidade de música perfeita para vocês com que nunca se cruzarão por mero acaso? Só me vem à cabeça a citação de José de Almada Negreiros acerca dos livros (mas bem podia ser sobre música) que surge em grande destaque na estação de metro do Saldanha, em Lisboa:
“Deve haver certamente outras maneiras de uma pessoa se salvar, senão… estou perdido.”
Pois.